29 octubre 2020

A CANÇÃO DO VENDEDOR DE PIPOCAS

 


Para Angélica Freitas

 

em frente ao

Banco de La Nación Argentina

o vendedor de pipocas

da avenida Paulista

desvenda os mistérios do Honda prata

que passa lentamente, soberbo

(“coisa mais sem gente!”)

pensa na noite crônica no organismo

da tiazinha de vestido florido (onde

predomina o ruivo)

agora assobia e coloca milho na panela

os estouros acordam a minha fome

(no El País

El presidente apuesta por las políticas

a favor de los “más olvidados”

y “los que pueden menos” –

risco outro fósforo, acendo outro cigarro,

outra melodia

frustrated incorporated)

quando chega o outro, de bicicleta

noticiando o acidente na Rebouças

(“foi feio pra caralho, mano!”)

logo envelopa a fala, se cala

a chuva recomeça sua cantilena

preciso das horas, mas não encontro meu celular

uma moça linda (ensopada) pára

em frente a mim,

balbucia

can you help me remember how to smile?

silencio e lembro de uma rua

que tem o nome do meu amor

– imagino que as canções de Bob Dylan

existam para nos fazer suportar dias

como este – a

cidade se altera, oxida de

alteridade e acídia

(La Contenta Bar

está muito muito longe e

a noite passada

você não veio me ver

 

 

Fabiano Calixto